sexta-feira, 25 de abril de 2008

Cultura e Cidadania: memórias do Teatro Amador e o novo CCC






















Imagem 1: «Lá Vai Disto!...», folha de rosto do original aprovado mas com cortes de censura por parte da Inspecção dos Espectáculos controlada pela PIDE, 1951

Imagem 2: «Lá Vai Disto!...», final do espectáculo, vendo-se ao centro os actores Luiza Satanella e Fernando Antão, Teatro Pinheiro Chagas, 1951




O processo de construção de equipamentos de cultura nas Caldas da Rainha deveria marcar, decididamente, os primeiros anos do novo século ao nível da cultura arquitectónica e das manifestações das artes de palco. Se a programação desses espaços deve ser moderna, vanguardista e tomando passo com a contemporaneidade artística do país e do mundo, também será um campo fértil de afectos, nos quais têm cabimento a dignificação da memória de actividades locais que outras gerações de caldenses souberam fazer como forma de participação cívica e como papel desinteressado de quantos dispensaram protagonismos elitistas e moveram a adesão voluntária das pessoas a causas comuns. Será que isso foi, ou será, salvaguardado?

1. A Cultura Urbana e o Centro Cultural e de Congressos (CCC)

As cidades favorecem a criação cultural, e a sua dimensão condiciona a amplitude e a frequência de acontecimentos artísticos, não prejudicando, contudo, a qualidade dos programas de actividades ou da própria arquitectura que os envolve. As cidades, qualquer que seja a sua dimensão, são locais onde se pode trabalhar e consumir, pelo que se exigirá a humanização no planeamento dos novos espaços urbanos com a integração de equipamentos culturais que estimulem convivialidade e a cidadania. Por exemplo, as pequenas cidades não devem estar condenadas a uma cultura limitativa. É neste sentido que as cidades devem ser personalizadas, mas ao mesmo tempo abertas ao mundo, para que se estabeleça uma ligação global e se confrontem vários modelos e práticas culturais. Uma estratégia correcta de desenvolvimento cultural obriga a uma articulação com o urbanismo, o património, a economia, que assimilam um desenvolvimento equilibrado.[1] Importa integrar as festas, os festivais, espectáculos, as semanas gastronómicas ou outros eventos regulares, dentro das dinâmicas culturais fortes, com incidência na reabilitação urbana e na construção de centros de produção cultural.

Os museus municipais, que têm de positivo por exemplo o acesso gratuito dos públicos, devem ver reforçados os seus recursos humanos especializados, técnicos e no campo do serviço educativo. Urge saber qual o futuro da rede municipal de museus e desta com o novo CCC.

Os futuros espaços culturais da cidade devem representar marcas importantes de contemporaneidade na produção cultural, a que deve corresponder redes de programação regular concordadas entre gestores políticos e programadores institucionais independentes e criadores artísticos, porque o sucesso de um projecto local é o contributo fundamental para o desenvolvimento da cultura nacional.

Os novos edifícios do CCC e do Teatro da Rainha (a construir) deveriam determinar para o futuro o reforço da cidade como centro de cultura de referência nas artes do espectáculo. Em ambos, o teatro é uma das artes comuns, cumprindo o desígnio da descentralização.

2. Uma Memória do Teatro Amador

Há 50 anos, a cidade das Caldas da Rainha tinha um conjunto de cidadãos seus reconhecidos fora de portas pelo seu gosto pelo Teatro, animando diversos locais de representação, em benefício de instituições de solidariedade social, como os Bombeiros e o Montepio, nos palcos do Teatro Pinheiro Chagas, do Salão Ibéria e dos Pimpões. Comédias, revistas e operetas chegavam a ter criações notáveis, em resultado da generosidade e profundo gesto de participação cidadã dos caldenses.

Desde 1950, que a consagrada actriz italiana Luiza Satanella, então a residir em Óbidos, passou a colaborar em espectáculos de amadores locais (como foi exemplo o espectáculo «Lá Vai Disto!...», de 1951, visionado pela censura política), e, desde 1956,que se constituiu o Conjunto Cénico Caldense (o primeiro CCC). Estes e outros factos dessa época, ligados à vida caldense, já foram sobejamente historiados em diversas circunstâncias, tanto em tertúlias recentes, como nas páginas de publicações locais, como a revista Cidade Termal (n.º 8) e os jornais Gazeta das Caldas e Jornal das Caldas.

De entre todos os amadores caldenses, é justo referir o nome de Fernando Antão, pela sua viva presença como encenador e actor, mas também porque foi guardião de inúmeras memórias escritas e iconográficas desse tempo, como talvez apenas a também saudosa Arminda Alves, mas creio em menor número.

Fernando Antão desde muito cedo que pisou o palco. Tinha 9 anos, quando fez o monólogo “Fogueteiro”, continuando com outros mais, depois colaborando em diversas peças e, já nos anos 50, produzindo momentos inesquecíveis para todos os que ainda se recordam, porque têm idade para isso. O apego ao Teatro continuou em Lisboa mas, sempre quando vinha às Caldas, um dos sonhos que transmitia aos seus contemporâneos, e a mim próprio que o conheci muito mais tarde pela diferença de idade, era o de contribuir para um novo espaço museológico ou de memória.

Agora que o novo CCC é inaugurado, lembro a proposta, aprovada, em Assembleia Municipal, no início do ano 2000, em que, a propósito do falecimento de Fernando Antão, defendi precisamente a existência, aí, de uma área expositiva em memória do Teatro Amador Caldense.

Como prova da veracidade do facto, transcreve-se a acta dessa intervenção:

O senhor deputado Jorge Mangorrinha pediu a palavra para dizer que no passado mês de Dezembro faleceu em Lisboa mais um caldense cujo nome ficou intimamente ligado ao Teatro Amador Caldense. Trata-se de Fernando Antão, que durante os anos 50 e 60 personalizou, com tantos outros, um momento de afirmação das Caldas no universo artístico português.
Durante anos o teatro esteve ligado à animação cultural desenvolvida pelas Sociedades Caldenses de Cultura e Recreio. Desde a Sociedade Dramática Caldense ao Conjunto Cénico Caldense, muitos foram os nomes que nesta terra fizeram um teatro de grande dedicação e espontaneidade, contribuindo para que esta arte se tornasse um meio privilegiado de divulgação de Cultura.
Mais recentemente, nos anos 80, Fernando Antão contribuiu com a sua dedicação e experiência para a concretização de um momento único, que foi o projecto “Revista das Revistas”, que fez o repositório das realizações teatrais Caldenses.
Já nos anos 90, em Lisboa, ambos iniciámos um processo que objectivava o levantamento histórico e a homenagem a todos aqueles que se dedicaram nas Caldas ao Teatro Amador. Por várias razões o processo teve de ser parcialmente suspenso, levando apenas ao reinicio da actividade teatral na Sociedade “Os Pimpões”, a que se deve o interesse desta colectividade e o trabalho de outros caldenses que deram continuidade, em parte, aos nossos objectivos.

Em seguida apresentou a seguinte proposta:

Face ao exposto anteriormente (introdução), propõe-se que o próximo Equipamento Cultural a construir nas Caldas da Rainha, com funções de sala de espectáculos e de congressos, preveja no seu programa funcional a existência de uma área ampla onde seja criado um espaço de memória do Teatro Amador Caldense e de todos aqueles que se dedicaram, abnegadamente, para a afirmação das Caldas, contribuindo certamente para juntar num sítio condigno todo o acervo documental, representativo dessa época, distribuído actualmente por diferentes pertenças. [2]


Uma exposição recente realizada no Café Central podia ter servido para germinar uma outra mais vasta e cientificamente dotada de contextualização no âmbito da História do Teatro Amador em Portugal e dos próprios domínios da Sociologia e Cultura Urbanas. Exposição essa que serviria para congregar alguma documentação dispersa que existe, bem como recordar para sempre um período de sã participação dos caldenses em actividades culturais e de intensa intervenção cívica. Uma lição de Cidadania.

Jorge Mangorrinha

Lisboa, 25 de Abril de 2008



[1]Fernando Mora Ramos, Está tudo bem com o Teatro?, Lisboa, Edições Cotovia, 1999, citado por João Francisco Rodrigues Falcato, A Política Cultural nos Municípios: o Exemplo do Teatro, Congresso Internacional “Ordenamento Territorial e Desenvolvimento Urbano”, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Lisboa, 24-26 de Novembro de 2004, pp. 4-5.
[2]Sessão de Câmara de 7 de Fevereiro, na Reunião de 8 de Fevereiro de 2000.



segunda-feira, 21 de abril de 2008

CARTAZES CORES DA CIDADANIA

Ver AQUI todos os trabalhos recebidos

Exposição e Serão dia 25 de Abril 2008


Exposição: As Cores da Cidadania

Serão de Abril: “Tecer os Cravos de Abril”

Associação para a Cidadania

– Conselho da Cidade -

de 25 a 27 de Abril de 2008 na antiga Pensão Portugal (Rua das Montras)

A Comissão Executiva da Associação para a Cidadania sabendo como faz falta falarmos das coisas que interessam a vida do nosso Concelho, está empenhada em promover uma série de encontros, conversas e iniciativas em torno daquilo que nos diz respeito com o fim de juntar cidadãos interessados em constituir grupos de trabalho nas diversas áreas relativas à cidadania.

Pareceu-nos muito oportuno expor os trabalhos realizados no âmbito da campanha intitulada “ As Cores da Cidadania” neste dia importante para a democracia portuguesa e promover um primeiro encontro: “ Tecer os Cravos de Abril” em torno da memória do 25 de Abril.

A Associação para a Cidadania agradece a participação dos professores e alunos, cujos cartazes se encontram online AQUI e que serão expostos na antiga Pensão Portugal durantes os dias 25, 26 e 27 de Abril.

Programa:

Sexta-feira 25 de Abril

15:00 Abertura da exposição “As Cores da Cidadania”

Convívio nocturno: “Tecer os Cravos de Abril”

Sábado 26 de Abril

Exposição aberta das 11:00 às 17:00

Domingo 27 de Abril

Encerramento da Exposição às 13:00.

Pensamos que só podemos crescer e promover um futuro promissor ao Concelho se houver cidadãos atentos e dispostos a partilhar os seus saberes em torno de todas as áreas da vida do Nosso Concelho!

Estão TODOS convidados! Venham dar VOZ à VOZ!


Actualização: Conversa com Paulo Ribeiro

Em breve encontrarão aqui um resumo sobre o encontro com Paulo Ribeiro dia 19 de abril no Mazagran Café.