quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Haverá uma Cidade Republicana?(a propósito das Comemorações da República, 2008-2010)

Em Janeiro de 2006, portanto há precisamente dois anos, iniciei no âmbito da Câmara Municipal de Lisboa a coordenação de uma equipa de projecto para o estudo do espaço público e da evolução urbana nos últimos 100 anos, acrescidos de exercícios de prospectiva para 2010, tendo em atenção as Comemorações do Centenário da República. O percurso decorrido constitui-se, actualmente, em iniciativas integradas no Programa, em finalização, ultrapassando até a mudança do executivo autárquico da capital. Em Outubro passado, fui moderador de um debate, em Lisboa, sobre a construção dos bairros sociais promovidos durante a Primeira República.

Entretanto, desenvolvo uma linha de investigação, na qual se incluem também aspectos urbanos do período de charneira do final da Monarquia e dos alvores da República, enfatizando o caso das Caldas da Rainha, prevendo que os resultados se dêem a conhecer durante o período que decorre até ao final de 2010.

Como se deseja, o ano de 2008 iniciará, efectivamente, as Comemorações Nacionais, ancoradas em acontecimentos de grande significado para a História do Portugal Contemporâneo, desde a vitória do Partido Republicano Português nas eleições municipais de Lisboa de 1 de Novembro de 1908 até à implantação do novo regime em 5 de Outubro de 1910. Estes acontecimentos tiveram, também, natural repercussão nas cidades de província, e, mais do que relevá-los, importa repensar e actualizar no tempo o legado republicano, com base nos valores da liberdade, da igualdade política e social, da democracia representativa, da cidadania, da emancipação pela educação e da descentralização e autonomia municipal. Nestes 100 anos, de uma forma significativa, o espaço público assumiu-se como o preferencial no exercício dessa cidadania, e os espaços centrais foram caracterizados por um quotidiano único e pela sociedade nela pintada, fotografada e descrita através dos tempos.

Daí que comemorar a República no espaço público é celebrar o próprio espaço público.

É manter viva a expressão comunicacional de há 100 anos, quando não havia rádio, televisão e internet, apesar de estes serem presentemente fundamentais.

Ao mesmo tempo, acredito que a celebração da República não deve ser um doesto à Monarquia, na qual se deram alguns dos maiores feitos da nossa História, mas deve sublinhar os aspectos relevantes da herança republicana, como a cidadania democrática e o substrato humanista. Não deve ser um exercício fútil, mas incluir intervenção urbana marcante. Não se deve limitar à História, mas ser criativamente prospectiva.

É certo que o estado financeiro em que o país e as autarquias se encontram não deixa espaço para eventos dispendiosos, mas a maior cooperação entre entidades centrais e locais e a sociedade civil pode possibilitar uma forte componente cidadã, como âncora mobilizadora.

Desejo que o segundo século republicano seja melhor do que o primeiro: mais genuíno na praxis política, mais afirmativo na cidadania e mais justo nos direitos da sociedade. Na leitura e no entendimento da evolução das cidades, encontraremos as respostas, por exemplo, às seguintes questões:

Será que há uma Cidade e uma Lisboa Republicanas?

E sentimos hoje em dia nas cidades médias portuguesas, como as Caldas, os valores de um século de República?

Jorge Mangorrinha

Lisboa, Dezembro de 2007

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